100'sentido
Cada vez mais.
E mais.
Um pouco menos que ontem.
Mas,de certo, mais que o amanhã me espera.
Espera sempre tanto.
Que o tanto é tão pouco.
Para o mais que ele precisa.
Mas o que me assusta não é.
De todo o amanhã.
É este hoje dado ao pouco.
Do que ainda tenho em mim.
Do que ainda posso dar.
Mesmo quando a vontade é de mais.
O hoje apenas goza do pouco que dou.
E tenho!
E depois de um hoje.
Desesperado.
Chega um amanhã.
Que me desespera mais ainda.
Por não saber o que quer.
Por não saber o que precisa.
Por não saber o que me dá.
Ou o que me tira ainda.
' Quando já nada é intacto
quando tudo na vida vem em pedaços
e por dentro me rebenta um mar
quando a cidade alucina
num luar de néon e de neblina
e me esqueço de sonhar
Quando há qualquer coisa que nos sufoca
e os dias são iguais a outros dias
e por dentro o tempo é tão voraz
Quando de repente num segundo
qualquer coisa me vira do avesso
e desfaz cada certeza do meu mundo
Quando o sopro de uma jura
Faz balançar os dias
Quando os sonhos contaminam
Os medos e os cansaços
quando ainda me desarma
a tua companhia
e tudo o que a vida faz
Em mim
Quando o dia recomeça
e a noite ainda te prende nos seus braços
e por dentro te rebenta um mar
Quando a cidade te esconde
e o silêncio é o fundo das palavras
Que te esqueces de gritar. '